A revisão do Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu será o maior
desafio para o engenheiro florestal Ivan Carlos Baptiston, que assumiu na
quarta-feira (22) o cargo de chefe da unidade de conservação, no lugar de Jorge
Pegoraro. “É uma decisão que vai ser construída de forma técnica, mas com
tranquilidade e bem trabalhada com a sociedade”, diz Ivan Baptiston.
O aspecto mais polêmico na revisão do Plano de Manejo é a questão do
transporte de visitantes por vans de turismo e táxis, que hoje, graças a um
acordo judicial, ainda entram normalmente no Parque Nacional do Iguaçu. Ivan
Baptiston reconhece que “é bem delicado mexer com esta situação”,
principalmente pelo tempo que se passou sem solução definitiva.
A escolha
Jorge Pegoraro, que ficou 12 anos no cargo, afirma que o nome de
Baptiston foi uma escolha “bem pensada” para enfrentar os “desafios pesados”
que há pela frente. Mas lembra que houve muitas conquistas desde 2003, “colocamos
o Iguaçu num patamar com bases sólidas. Agora, é melhorar os procedimentos”,
que incluem não só o Plano de Manejo como a questão das concessões, em que o
parque foi pioneiro.
O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), Roberto Vizentin, virá a Foz do Iguaçu para empossar
oficialmente o novo chefe (ainda não foi marcada a data), quando trará uma nova
proposta de cargo para Pegoraro, que é funcionário de carreira do instituto.
Cuidados
“Apaixonado pelo Iguaçu”, Ivan Baptiston diz que as maiores “belezas
naturais do Brasil estão protegidas nos parques”. A visitação pública, segundo
ele, é fundamental para criar um “maior comprometimento da sociedade com o
patrimônio natural”. Diz que é preciso “melhorar cada vez mais a qualidade para
visitação”, mas sempre com a preocupação de evitar impactos ambientais.
“Temos que olhar com cuidado para os projetos (referindo-se à nova
passarela, por exemplo, ainda em fase de detalhamento, e para as concessões de
serviços), para manter aqui o ambiente selvagem, que é o que garante toda essa
singular beleza cênica”, afirma.
Experiência
Ivan Baptiston conheceu o Parque Nacional do Iguaçu em 1970, quando
tinha 10 anos. Ele veio com o pai, “num Fusquinha”, para acampar na área onde
hoje funciona o restaurante Porto Canoas. Na época, era possível não só entrar
com carros particulares como acampar ou fazer piquenique pertinho das
Cataratas. Foi ali que nasceu seu interesse em ser “guarda-parque”, conta.
Já como funcionário do Ibama – analista ambiental -, voltou ao parque
em 2003, quando veio reforçar a equipe num dos momentos mais complicados da
história da unidade de conservação, como lembra Jorge Pegoraro. Naquela época,
o parque vivia a ameaça da retomada da Estrada do Colono, ideia que agora
parece definitivamente sepultada.
Chamado para ser coordenador geral das Unidades de Conservação do
Ibama em Brasília, Ivan Baptiston ficou dois anos na capital federal e retornou
ao Parque Nacional do Iguaçu em 2006, para assumir a chefia do setor de
proteção ambiental.
Cargos
Natural de Chapecó (SC), Ivan formou-se em 1984, em Engenharia
Florestal, pela Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá. No ano
seguinte, fez pesquisa científica na Escola Superior Agrícola de Piracicaba
(SP), na área de conservação da vida selvagem.
Em 1986, a convite do governo do Mato Grosso do Sul, foi para Bonito,
onde chefiou o escritório de meio ambiente. Foi ali, até 1995, que teve a
oportunidade de atuar em ambientes naturais de grande interesse turístico,
tendo que conciliar a preservação com o atendimento aos visitantes.
De 1995 a 1999, uma nova virada na carreira. Foi trabalhar para a
Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, em Curitiba, onde conviveu com
“grandes intelectuais” da defesa da vida selvagem e pôde fazer um “trabalho
interessante com ONGs e instituições privadas”. Mas, conta, sentia o “banzo”, a
saudade do contato com a vida selvagem. Por isso, aceitou o convite do governo
do Mato Grosso do Sul e foi para Campo Grande (MS), para ser coordenador de
parques e reservas.
Ainda assim, faltava a proximidade com Bonito, o que voltou a ter em
2001 e 2002, ao se tornar servidor municipal daquela cidade. Ainda em 2002, fez
concurso para analista ambiental do Ibama e, aprovado, assumiu um novo cargo no
mesmo ano, em Jericoacoara, no Ceará.
Enfim, no parque
Ficou no litoral cearense por pouco tempo, porque soube que havia
vagas no Parque Nacional do Iguaçu e ganhou remoção para cá. Para ele, um
paraíso, uma oportunidade para trabalhar com conservação da natureza. O
“analista ambiental” se realiza em viver num dos poucos lugares no Sul do
Brasil onde ainda vivem espécies ameaçadas de extinção, como a onça-pintada, o
gavião-pega-macaco e a jacutinga, entre outras.
A região também possui oportunidades ímpares, segundo ele, para a
construção e a ampliação de parcerias com outras instituições, como a Itaipu
Binacional, que também atua na conservação da biodiversidade. “O Parque
Nacional do Iguaçu e a Itaipu estão em extremos de Foz do Iguaçu e na dialética
do ambiente natural (parque) e do construído (Itaipu). É muito interessante e
promissor interligar esses dois extremos e somar esforços em favor da vida
selvagem”, afirma Ivan.
Legado
Jorge Pegoraro faz um rápido balanço de seus 12 anos à frente do
Parque Nacional do Iguaçu, lembrando que a pior batalha foi para evitar a
retomada da Estrada do Colono. O parque foi pioneiro nas concessões de
serviços, desde a visitação (pela Cataratas do Iguaçu S.A.) até atrativos como
o Cânion e o Macuco Aventura. E o número de visitantes, de 2003 para cá,
duplicou. “Com certeza, estou entregando o parque melhor do que recebi”.
Ainda falta concluir a ciclopista (as obras deveriam ser concluídas em
fevereiro, mas agora nem há previsão do término) e é preciso colocar em
discussão o projeto da nova passarela de acesso às Cataratas. O projeto já está
praticamente pronto e inclui levantamento geológico e topográfico.
Pegoraro, que tem muitos amigos em Foz do Iguaçu, não sabe ainda qual
missão lhe será destinada pelo ICMBio, mas diz que vai aguardar o chamamento
com tranquilidade. Considera que, ao longo desses anos, viveu praticamente à
disposição do Parque Nacional do Iguaçu, deixando de lado até a vida social,
especialmente nos dez anos em que morou dentro da unidade de conservação. Por
isso, é enfático: “Saio com a tranquilidade do dever cumprido”.
Comentários
Postar um comentário